Havia esse casal de namorados, estavam completamente apaixonados. Eis que quando comiam, num dia qualquer e numa lanchonete qualquer, a moça percebeu um pedaço de alimento preso nos incisivos do rapaz. E aquilo lhe pareceu tão medonhamente repugnante como jamais imaginaria. E a forma como ele falava e ria, inconsciente do ridículo, causava-lhe uma repugnância ainda maior. Mas simplesmente não conseguia avisá-lo, parecia haver algo de hipnótico na repugnância que a imagem provocava nela. O fato é que, depois daquele dia, nunca mais o viu com os mesmos olhos e, pouco tempo depois, terminou o namoro.
Havia este menino que simplesmente idolatrava seu pai. O homem parecia ter uma conduta impecável aos olhos do garoto. Um dia, um desses sujeitos que tenta sobreviver coletando material reciclável para a revenda acabou esbarrando com o seu carrinho na lataria do carro do pai
Havia esse rapaz que nutria uma profunda admiração pelo seu professor. Via-o como se fosse a própria sabedoria personificada. Mas eis que um dia o tal mestre empregou uma palavra errada, um erro que muitos veriam como algo banal, mas que para o aluno foi uma falta sem perdão. Em vez de “a pupila dilatou”, o homem disse “a pupila delatou”. O rapaz desejou que seu professor houvesse morrido a ter dito aquilo. E nunca mais o viu com os mesmos olhos.
Existe uma espécie de padrão no que aqui foi narrado. Profunda admiração, seguida de uma pequena falta, ou algo do gênero, e, finalmente, uma enorme decepção aparentemente injustificável.
Eis que o narrador que vos fala tem uma curiosa relação com as pessoas. Sente por elas uma profunda admiração e, ao mesmo tempo, sente-se decepcionado com todas elas. Mesmo com aquelas que ainda não lhe apresentaram falta alguma, ou até mesmo com aquelas que ainda nem conhece. Então, meu amigo, estive pensando sobre isso tudo de uma maneira muito confusa e tive esse estranho desejo de ver o apocalipse sentado ao seu lado. Por mais que eu mesmo não acredite no apocalipse. Mas foi esta imagem que me passou pela cabeça, o alto de uma montanha num final de tarde e o fogo devorando tudo. Então, riríamos uma última vez antes de sermos engolidos pelas labaredas. E sei que seria um riso espontâneo e sincero. Seria melhor do que decepcionarmos uns aos outros e a nós mesmos ao depararmo-nos com uma vida estável e enfadonha. Às vezes, esse binômio causa-efeito me deixa profundamente intrigado. A maneira como não falha. Creio que a única saída seja ignorar as inevitáveis conseqüências.
6 comentários:
Po... pelo título pensei que viria uma narrativa sobre a relva verdejante e os indescritiveis impulsos que ela ocasiona!!! :D
CUZAO
PAU NO CU
CUZAO
que dize q os amigos decepcionam ne?
nunca mais fale comigo.
Você tem postado pouco, passo todo dia para ver se tem algo novo ):
Comentários maldosos...
Sinceramente, eu acho que o Senhor escreve muito bem, eu diria que o faz de uma forma natural.Parabéns!
"Um sorriso sincero antes das labaredas".Ultimamente,apenas elas ocasionam a verdade ;D
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