quarta-feira, 28 de abril de 2010

BORDERLINE

Quando era menor, eu gostava de andar me equilibrando sobre o meio-fio. Para deixar a brincadeira mais emocionante, você pode fingir que de um lado há lava incandescente e de outro um precipício, por exemplo. Era isso que eu fazia, mas você pode pensar em qualquer outro elemento ameaçador, como um pântano com crocodilos, fosso com cobras, areia movediça... enfim, fica a seu critério. O importante é que realmente acredite naquilo que imaginou; que se der um passo em falso, não irá pisar no asfalto, ou na calçada, caso o contrário, a brincadeira perde toda a graça. Você pode fechar os olhos se preferir.

Depois de um tempo, a ansiedade começa a crescer, o medo de cair na lava ou no precipício só aumenta as chances de isso acontecer, e o meio-fio é tão estreito; se você parar para pensar um pouco, talvez se dê conta de que o meio-fio é sempre tão estreito... Não há ninguém lá para te ajudar; não, não é assim que a coisa funciona. Não há cordas ou corrimãos servindo como guia, nada para se apoiar. Algumas vezes, sinto vontade de simplesmente desistir, pular de uma vez. Acho que escolheria o precipício, queimaduras me parecem uma agonia demasiada. E andar medindo os passos, na iminência do fim a qualquer momento, não seria uma agonia insuportável?

Também penso um pouco sobre as pessoas que realmente gostam de mim, na falta que sentiriam se, por ventura, meus pés saíssem daquela linha segura. Não seriam muitas, são poucas as pessoas que gostam de mim de verdade e, provavelmente, com você não deve ser diferente. Sempre esperam que você siga o roteiro e fale aquele monte de besteiras sem sentido; se você se nega, suas chances de ser bem quisto diminuem; se você aceita, depois, sente-se um completo idiota. Nunca entendi o que todos têm contra o silêncio, como se as pessoas que estão em um grupo qualquer fossem obrigadas a interagir o tempo todo. Provavelmente, mais uma dessas heranças culturais e sociais estúpidas que, em maior ou menor número, acabamos internalizando, por mais que doa admitir. De qualquer forma, acho que cabe ressaltar que falar a esmo soa, para mim, como um grande equívoco. Não estou dizendo que seja uma regra, mas, pelo o que consigo recordar, as pessoas mais legais que já conheci não falavam muito. O oposto também vale, acho que nunca conheci alguém que achasse chato que não fosse um falante inveterado. Não posso dizer se os chatos são pessoas que falam demais, ou se pessoas que falam demais são chatas; talvez esclarecer isso também não fizesse muita diferença.

Não pense também que sou um desses ranzinzas, que implica com todos e tudo. Acho sinal de ignorância não saber admitir que o outro é bom em alguma coisa (não uso a palavra infantilidade porque simpatizo com a infância), e sei que há várias pessoas que não sabem fazer isso. Às vezes, quando estou lá, me equilibrando no meio-fio, me dou conta do quanto consigo ser amargurado em alguns momentos (tenho uma certa resistência em usar a palavra “triste”, apesar de achar que ela encaixaria melhor, penso que ela me exporia demais). É como se a coisa toda viesse feito uma avalanche e me deixasse soterrado, e, quase sempre, isso acontece de uma hora pra outra. Também há momentos em que consigo perceber coisas arrebatadoramente bonitas, a maioria delas pode parecer estúpida pra você. A questão é que as cores exercem um certo fascínio sobre mim, e a luz do sol refletindo sobre papéis de bala ou latinhas de refrigerante num terreno baldio pode fazer valer o meu dia.

Vez ou outra, me pergunto o que eu realmente desejo. Claro que há várias coisas, alguns dizem que são as nossas vontades que nos mantém vivos; no entanto, penso que, caso consiga chegar em casa me equilibrando neste meio-fio, seria muito agradável deitar em minha cama e sentir que a falta de pretensão fez de mim um pouco mais verdadeiro e muito mais livre.

domingo, 4 de abril de 2010

Blog

Faz algum tempo que não escrevo nada aqui (provavelmente voltarei a postar). No entanto, tenho postado regularmente, uma históra descompromissada, neste endereço: http://projeto-vortex.blogspot.com/