Era um controlador de estoque. Pouca instrução formal. Poucas atividades de lazer. Pouca remuneração. Do tipo que idolatra o chefe e qualquer pessoa que possua algum tipo de título, ou que use um sapato bem lustrado. Um dia percebe um pequeno caroço na axila. Vai ao médico. Duas semanas depois, pega o resultado do exame. Tumor maligno. Submete-se a uma nova bateria de testes. Duas semanas depois, retorna ao hospital.
- Sinto lhe informar, mas o seu prognóstico não é nada bom _ diz o médico.
- Eu vou morrer, doutor? É isso?
- É difícil dizer isso, mas eu trabalho com a verdade. O câncer está espalhado pelo seu corpo e, nesse caso, não há muito que a medicina possa fazer. Sempre há possibilidades... mas as chances são remotas.
- Por favor, doutor, seja franco. Quanto tempo de vida me resta?
- Eu diria uns seis meses...
- Ainda bem... mês que vem eu preciso entregar o balanço anual do estoque.
Interpretação I: Trata-se de um personagem que abriu mão de sua subjetividade em função de uma burocratização altamente coerciva imposta aos sujeitos que compõem a sociedade contemporânea. Percebe-se nitidamente uma alienação kafkaniana.
Interpretação paralela (e mais legal): Foda-se esse personagem estúpido, o Woody Allen, as bandas cults, os intelectuais e os pseudo-intelectuais.