domingo, 28 de setembro de 2008

BOBAGEM

Há aquela voz que sussurra de algum lugar: “É isso?”

E você tenta fugir dela, mas não adianta correr

Você olha pra aqueles que te cercam e pergunta: “É realmente preciso?”

Esqueça, eles nunca vão te compreender.


Você tenta usar rimas simples pra falar de coisas complicadas

E aquela voz sussurra: “Adianta?”

As piores respostas nunca precisam ser pronunciadas

E você encerra sua poesia chata pela metade, sem graça e sem rima.

domingo, 21 de setembro de 2008

Poema nos meus 43 anos

Não gosto muito de postar textos que não são meus, mas achei que o Charles Bukowski mandou tão bem nesse poema que acabei não resistindo. Segue a versão em português e a original em inglês:

Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.

... de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.



Poem for my 43rd birthday

To end up alone
in a tomb of a room
without cigarettes
or wine —
just a lightbulb
and a potbelly,
gray-haired,
and glad to have
the room.

... in the morning
they’re out there
making money:
judges, carpenters,
plumbers, doctors,
newsboys, policemen,
barbers, carwashers,
dentists, florists,
waitresses, cooks,
cabdrivers...

and you turn over
to your left side
to get the sun
on your back
and out
of your eyes.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

MIRAGEM

Sou metade eu, metade falta

Metade busca do que não está, metade busca do que não é

Mas quando a falta é mais do que sou, aí já não queria ser

Quando a falta me preenche com sua ausência,

Me sinto cheio de um vazio que faz doer


Sou metade vida, metade morte

Metade vida que pulsa, metade pulsão de morte

Mas quando a morte é mais que vida, aí já não queria pulsar

Quando a morte me rouba o calor que tanto busco

Sinto a calma brisa que sopra do mar


Sou sombra de desejo e desejo de sombra

Sozinho no deserto, me queima o sol da repressão

Pai, me compra o mundo; mãe, fica junto

Não quero mais ter que desejar

Não quero mais ter que ter, não quero mais que me tenha,

Não quero...


Sou metade alegria e metade tristeza

Metade riso que sopra, metade angústia que sufoca

Mas quando a tristeza é mais do que pode ser

Quando o sentido se perde ou parece banal

Aí as palavras são inúteis...

E o ponto é final.