sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Incrível Menina Mágica

Uma vez eu tive esse sonho maluco. Sonhei que eu estava despencando nesse precipício, aí encontrei um galho e me agarrei nele. Quando eu estava começando a respirar aliviado e tudo, achando que tinha me salvado, o galho quebrou.

            Sabe, um dia desses, eu estava passando na frente de um circo, nunca fui maluco por circo nem nada, mas eu estava passando na frente desse circo e vi que a grana que eu tinha no bolso dava certinho pra comprar o ingresso. Não achei que fosse uma porcaria de sinal, nem coincidência, nem nada, só comprei o ingresso. Aí logo que entrei já me arrependi. Sabe, você nunca deve criar muitas expectativas em cima dos lugares e das pessoas e tudo mais. Achei que seria mais fácil encontrar gente legal num circo do que numa droga de fila de banco ou escritório e essa merda toda. Mas, quando entrei, o lugar estava cheio desses sujeitinhos que só vão lá pra comentar o quanto os palhaços são sem graça, e os leões estão magros e esse monte de porcaria. E também tinha os pais das crianças, com uma cara meio séria e amargurada que me deprimiu pra caramba. Juro que quase caí fora dali quando vi aquelas caras... que se dane se eu já tinha pagado o ingresso e o diabo a quatro. As caras deles estavam mil vezes pior do que a dos seus filhos quando são obrigados a ficar sentados naqueles bancos de madeira durante a porcaria da missa toda. Juro que não entendo um troço desses. A única coisa que salvava aquele lugar eram as crianças, sou maluco por crianças. Não sei como elas conseguem ficar tão felizes num lugar tão deprimente como aquele; só por isso, já teria valido a pena ter pagado a porcaria do ingresso.

            Aí sentei num lugar meio isolado pra não ouvir os comentários daqueles caras metidos a espertalhões, senão juro que eu vomitaria em cima deles. Foi aí que essa garota sentou do meu lado. Logo de cara dava pra ver que ela não era igual a todas as outras garotas. Então ela me perguntou o que eu mais gostava nos circos. Eu falei que nunca tinha pensado sobre isso, que eu não era maluco por circo nem nada, apesar de até achar o lugar legal. Ela disse que gostava das girafas, que era difícil encontrar circos que tivessem girafas e tudo, mas ela era maluca por girafas porque elas eram diferentes de todos os animais, pareciam ter vindo de outro planeta... Também disse que morria de medo de palhaços, que seu coração disparava e que ficava toda arrepiada quando eles davam aquelas gargalhadas. Mas o que ela mais gostava mesmo em todo o circo era da luz que passava pelos buracos da lona. Só então percebi que a lona era inteira esburacada e passava uns fachos de luz pelos buracos. Ela gostava daquelas poeirinhas que ficavam flutuando e se destacavam por onde a luz passava. No fundo você sabe que aquelas poeirinhas ficam voando pelo lugar todo, mas só dá pra ver onde a luz passa por elas. Ela me falou que na verdade as poeiras que ficavam flutuando eram fadas, um monte delas... E que ela própria era uma fada também. Juro que se fosse qualquer outra pessoa que tivesse me dito isso, eu acharia a maior charlatanice do mundo. Teria dado o fora dali na hora. Mas não tinha como não acreditar nela. Você pode achar que eu estou bancando o trouxa, mas se você estivesse ali, aposto que você acreditaria também.

            Sabe o que me deixa mais pirado nisso tudo? É que ela não era o tipo de garota que fica te perguntando em que droga de colégio você estudou ou que porcaria pretende fazer da tua vida. Você podia ficar em silêncio ao lado dela sem se sentir na obrigação de puxar um assunto idiota. Aí, sem mais nem menos, ela me perguntou por que eu tenho estado tão triste. Eu menti que não tenho estado triste nem nada, que só estava pensando na minha irmãzinha porque o hamster dela, o Sr. Dentuço, tinha morrido de repente. A verdade é que minha irmãzinha nunca teve porcaria de hamster nenhum. Juro que não sei por que invento essas besteiras.

            Nunca fui fã desses figurões que tocam guitarra, ou que aparecem em filmes bancando os durões e essa porcaria toda. Pra mim, são todos uns charlatões. Mas eu confesso que virei fã dessa garota de quem estou te falando. Sei que parece que eu estou exagerando e tudo, mas acho que ninguém consegue passar cinco minutos ao lado dela sem virar seu fã. Sabe, tem pessoas que, se fizessem parte de uma história, seriam protagonistas e pessoas que seriam coadjuvantes. Tenho certeza que ela era a protagonista ali e todos aqueles sujeitos que estavam no circo, inclusive eu, eram só os coadjuvantes da história dela. Juro que me senti feliz pra caramba por ser um coadjuvante.

Acho que eu devo ter passado uns quarenta minutos ao lado dela, mas parecia que eu a conhecia há uns trocentos mil anos. Aí ela me falou que precisava ir embora pro tal mundo mágico, que é onde as fadas vivem e tudo. Disse que ela passava um tempo entre os humanos, aí, quando enjoava, voltava pro mundo mágico. Quando estava de saco cheio das tais fadas e seres mágicos e tudo, ela vinha outra vez pro mundo dos humanos. Puxa, eu fico doido quando escuto uma coisa legal assim. Mas a verdade é que na hora tive vontade de explodir a droga do tal mundo mágico... Aí ela não teria como ir embora. Mas depois eu pensei que seria muito injusto prender ela pra sempre no meio de toda aquela gente chata...

Quando ela estava saindo, eu falei pra ela: “Espera, me diz o que eu devo fazer da minha vida... Fala qualquer coisa, a primeira que vier na tua cabeça. Olha só, se você me disser que eu devo ser um desses charlatões que vendem revistas de casa em casa é exatamente isso que vou fazer. Ou se você disser que eu devo passar o resto da minha vida pilotando uma droga de um ultraleve. Olha só, eu não rasparia minha cabeça por dinheiro nenhum desse mundo, mas se você disser que eu devo ir pro Nepal e virar um daqueles monges carecas, juro que eu viajo pra lá hoje mesmo. Melhor, eu nunca gostei desses militares metidos à besta, mas se você me pedir pra ir agora pra porcaria do exército, no duro que vou direto pra lá e passo o resto da vida batendo continência pra aqueles figurões... Você só tem que dizer qualquer coisa”.

Aí ela sorriu pra mim e desapareceu. Acho que ela deve ter virado uma fada ou algo assim e ido pro tal mundo mágico. Não sei por que falo essas besteiras, podia ter falado um milhão de coisas pra ela e fui falar logo esse troço estúpido do que eu deveria fazer da porcaria da minha vida. Acho que eu devia ter dito pra ela que, se ela dissesse que iria voltar, nem que fosse só por um dia, eu passaria uns setenta anos esperando ali naquele circo, sentado na mesma droga de lugar. Puxa, eu nunca sei mesmo a coisa certa pra se dizer e depois fico doido por causa disso.

Eu não sei se eu já te falei desse sonho que eu tive uma vez. Foi um sonho maluco pra caramba. Sonhei que eu estava caindo numa porcaria de despenhadeiro e aí, quando eu achei que já estava tudo perdido, encontrei um galho e me agarrei. Na hora que eu estava respirando aliviado porque achei que tinha me salvado e tudo, o galho quebrou. Puxa... 

4 comentários:

Siguilita disse...

E aí vc nunca mais encontrou ela?
rs
bjinhos

Clarice disse...

Vou fazer uma crítica como leitora, ok? *-* O texto é lindo, dá vontade de conhecer a personagem no fundo parece que conhecemos ela em alguma vida passada ou sei lá, mas a palavra porcaria foi empregada muitas vezes e repetitivamente, acabou ficando chato de se ler. COntinue a fazer seus textos ótimos *-* n_n

Anderson Onofre disse...

Brigado... então, é este meu personagem que tem a mania de falar "porcaria"; mas repasso o recado pra ele ahahua

Bianca Caroline disse...

Gostei muito do texto! ^^
Ficou bem fantasioso e ao mesmo tempo confuso pelos pensamentos em off do personagem...e o "porcaria" fiicou enfático nas falas, achei legal!

passa aqui? http://parecemoderno.blogspot.com