terça-feira, 6 de maio de 2014

SANGUE (Haima)

Verão, outono, inverno, primavera... são tantas estações em que não passa nenhum trem
A locomotiva apita, compassa, com pressa... acerta o compasso do coração de alguém
Que chora, que grita, que sorri e que espera...uma vaga no vagão de si mesmo
Mas quando a roda perdida enfim se recupera, entra nos eixos e volta pros trilhos
O maquinista muda de estação... pra uma freqüência secreta que não se ouve com os ouvidos

Queima o carvão... como brasa branda que se aviva pela brisa
Aquece o coração... como o andar de quem anda passeando pela vida
Acende a chama e me chama pra sentar perto da fogueira
Com voz mansa de quem ama ver o fogo queimar a noite inteira

Mas se for para queimar pela metade, queima a meia-noite, queima o meio-dia...
queima devagar esta noite, para eu aproveitar bem a estadia;


E depois que fogos amarelo-avermelhados transformarem galhos marrom-enluarados em cinzas;
Pintarei ruas e telhados como pintor despreocupado, sem ter tido sentido e sem tintas.
Com talhos e retalhos, com calos que não calam a inspiração verdadeira
Entalho o trabalho que me impele, em pele, em pano e em madeira.
Como artesão desnaturado, sem dinheiro e sem salário, pelo prazer da brincadeira.

Admito ter perdido a bússola, o sono, a inocência e o juízo
Mas perdi por distraído e voltaram para o dono nos achados e perdidos
Tenho me encontrado mais perdido do que achado
Mas acho que agora estou quase me encontrando

Acho que meu lugar é ao lado... de quem esteve me procurando.

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