terça-feira, 13 de maio de 2014

FLEUMA (Plégma)

Tanto fez como tanto faz, de trás para frente ou de frente para trás
Todo círculo começa no ponto em que acaba, e todos eles são iguais
Nenhuma surpresa é inesperada, se a espera já dura demais
O valor só existe na importância dada, e nada disso importa mais

Generais generalizam seus soldados genéricos
Soldados soldam solados de coturnos seriados
A norma normatiza a doença e o remédio
O ciclo repassa o passado no futuro e o futuro no passado

O meio, o morno, o médio
O mesmo contorno do tédio
Seu sonho único já sonhado por tantos
Causa muito embaraço e pouco espanto

Me deixa amortecer,
Deixa o amor tecer e depois enroscar um fio solto numa aresta do dia a dia
Deixa anoitecer,
Deixa a noite ser a agulha que se presta à anestesia
Prometo ficar abaixado na trincheira, prometo continuar fechado no casulo
Prometo dormir a vida inteira, se me deixar voltar para o útero

Mas se o aviso diz: cubra
Se descubra e não desvie os olhos por quanto tempo conseguir
E se o aviso te dispensa
Você pensa que devia ter pensado que podiam te substituir

Incontáveis engrenagens idênticas põem para funcionar a máquina da rotina
Intermináveis passagens concêntricas de um mesmo dia que nunca termina
O velho carimbo desbotado preenche com o mesmo desenho tantas folhas em branco
Enquanto rosas de arame farpado cobrem muros, desejos, escolhas e campos

Nada se cria, nada se perde, tudo se repete
Nenhuma surpresa é inesperada, se a espera já dura demais
Da poeira à poesia, o fim da estrofe se reflete:

O valor só existe na importância dada, e nada disso importa mais

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