Me aproximo do
espelho e olho no fundo dos meus olhos, através da pupila
Enxergo um touro
negro com sede de revanche adubada por ódio, humilhação contida
Preso a um barbante
amarrado a um graveto... o que o prende realmente?
Talvez
um chicote distante, brandido há muito tempo, agora ausente
O touro inerte é açoitado
por palavras, risos de escárnio e repugnância
A força dele cresce
alimentada por mágoas e restos de uma dor em silêncio
Sinto o galopar, o
som apressado de suas patas, do meu coração rumo à garganta
Enfim, o desastre
anunciado liberta a fera e apaga a consciência num só momento
Tomo em mãos seu
chifre e com prazer rasgo ventres, vísceras e gargantas
Pelo caminho,
trituro, engulo, vomito e engasgo, entre clamores, súplicas e barganhas
É tarde para pedidos,
é tarde para os perdidos... não se trata de justiça, apenas destruição
Mais um golpe para os
feridos, sem clemência para os rendidos, mais sangue para o chão
Sinto a energia do
sonho partido, do átomo partido, brotando da fissura e da fissão
Hoje sou o anjo mais
nocivo, mais radioativo e não há fuga... ou solução
Hoje sou Shiva, Ares,
Urano ou urânio em reação
Contamino a água e deformo
crânios até a próxima geração;
A lógica não poderia
ser mais óbvia, a energia é proporcional à repressão
Não há mais saída de
emergência ou válvula de escape, só resta explosão
Como o canibalismo da
alcatéia pinta a neve de vermelho,
ou como a rainha da
colméia pede a morte do parceiro
Como um exército de
berserkers espalha caos e pesadelo
Trago em uma mão o
fim da esperança e na outra o início do desespero
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