quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Caçando estrelas e vaga-lumes

Lançamento em 5, 4, 3, 2, 1... O espaço é tão bonito que me sinto bem por ser pequeno. É uma mistura estranha de paz e saudade. O que é real e o que não é? Eu estou mesmo vivo? A visão das estrelas dispostas no escuro vazio parece ser mais do que eu mereço. Uma parte besta de mim tem essa estranha sensação de estar voltando pra casa. Talvez não seja besteira, talvez tenha algo a ver com meus átomos, que um dia estiveram no interior dessas gigantes luminosas. A impressão é de que eles querem me abandonar e retornar às suas origens... como se a qualquer momento meu corpo fosse dissolver como uma escultura de areia perante um vendaval. E isso não me assusta, pelo contrário, me deixa extasiado. Não é o fim, pois, se o fim existe em algum sentido, agora está tão distante que nem posso o vislumbrar. A maioria desses pontos luminosos que vejo possuem alguns bilhões de anos de idade. Me sinto minúsculo e me sinto confortado por isso, por haver algo tão maior. Brilham... os vaga-lumes espalham-se pulsando pelo final da tarde. Corro entre eles, tentando apanhar algum com as mãos. Se o apanho, admiro-o por alguns instantes e depois o liberto. Tenho medo que ele morra; tenho medo que o fim chegue para tudo isso que aí está. Ele pode voar e brilhar, e isso é incrível. Não me sinto sozinho entre eles. E quando a noite chega deito e olho pra cima. E passo horas admirando aquilo que sempre foi o que mais me deixou intrigado; como pode minha pequena consciência tentar conceber a idéia de infinito? Como pode nunca haver tido um início e nunca ter um fim? Não desejo glória, riqueza ou vida eterna... só quero duas ou três respostas que mesmo na infância sei que nunca terei. Os pequenos pedaços de estrelas uniram-se de formas variadas até chegarem ao estágio em que se perguntam o que são e como surgiram... incontáveis eventos coincidentes levaram a isso. Minha roupa está molhada pelo orvalho, minhas pálpebras estão pesando e me pergunto se alguma outra vida inteligente talvez não estaria olhando em minha direção, fazendo as mesmas perguntas. Apesar de ser criança, sei que isso seria muita coincidência, mas o universo e mesmo minha própria vida são a prova de que as coincidências mais absurdas sempre ocorreram. A ironia que me deixa triste é que sei que se existe alguém muito, muito distante, que faz as mesmas perguntas que eu olhando para o céu, jamais iremos nos comunicar. O espaço é tão vasto que sinto vontade de chorar. Estava errado em minha suposição. E estou navegando entre as estrelas rumo àqueles que se perguntaram as mesmas coisas que eu; estou navegando em direção às respostas. Duas ou três respostas que são o significado de minha existência. A ironia do universo se mostra outra vez. Como o tempo é relativo, a viagem que dura alguns anos para mim, dura alguns milhares para a minha civilização, portanto, apenas um, apenas eu terei as respostas para as perguntas. Nunca mais verei minha família, meu cachorro, os vaga-lumes... nunca mais verei nenhum ser humano. Mas aquilo que a união destes átomos que formam meu corpo, como se fosse um vasto universo de elétrons orbitando prótons, tudo que essa união de pequenos sistemas mais quer é saber como ela surgiu. A esta velocidade as estrelas não são mais pontos luminosos no céu. É impossível saber se aquilo que meu cérebro pensa é passado, presente ou futuro. Talvez delírio. A noção de tempo se perderia sem o sol como referência... mas tenho vários instrumentos me dizendo que estou viajando há 12 anos, 6 meses, 11 dias, 14 horas e 32 minutos. Vejo um planeta que deve ser 1,7 vezes maior do que meu planeta natal. Também se mostra a princípio azul, devido à água em estado líquido. Os pára-quedas de minha nave se abrem automaticamente quando entro em contato com a atmosfera. As porções de terra se mostram verde e marrom-avermelhado devido a uma suposta vegetação que avisto. Quando estou mais próximo, percebo enormes construções feitas de um material que parece um tipo de vidro ou cristal azulado. Avisto os dois sóis ao horizonte, não sei se estão nascendo ou se pondo. Caio numa vasta porção de água. Acordo com os seres nativos inteligentes ao meu redor. É um feito tão inacreditável que chego a me questionar se existe a mínima possibilidade daquilo ser real. Suas feições são mais familiares do que eu havia imaginado. Estou em algum local apropriado para que minha saúde seja tratada e me sinto incrivelmente bem. Logo recordo que eles conhecem minha cultura e minha língua devido às ondas eletromagnéticas emitidas no espaço pelos satélites da Terra. Compreendem perfeitamente aquilo que digo e posso compreendê-los com igual precisão. Então, o representante deles me diz: “O senhor precisa descansar agora, Mensageiro, mas saiba que estamos ansiosos pelas respostas que trouxe para nossas perguntas milenares”. A ironia do universo. Me sinto perseguindo vaga-lumes que nunca estiveram lá; mas, no fundo, sei que esta foi minha melhor escolha.

2 comentários:

R disse...

Cara!, que massa!!! Viajei... viajei mesmo. Tô ouvindo Sonic Youth - Karen Revisited, e parece que a música se encaixou perfeitamente com o texto. Muito louco... que criança é essa que tão cedo já se faz tantas perguntas? É vc? Legal que eu viajei junto com o personagem... "a ironia do universo se mostra outra vez". Ficou muito bom.
Parabéns!

R disse...

Anderson, vc pode mandar o arquivo em pdf pro meu e-mail? Não to conseguindo baixar pelo rapidshare... por favor. :)