sexta-feira, 9 de maio de 2008

Carta de Prometeu

Então, como te contar como tudo começou, se nem eu mesmo sei

Como te falar do meu velho porão, onde sempre escondi meus cacos e trapos

No fundo você sempre soube, você sempre conheceu tudo

Sabe que sou esta pequena mentira pretensiosa... arrogante

Não, não há nem mesmo tristeza... e isso é o que mais dói

Porque, de certa forma, você acaba viciado nela (seu único refúgio)

A verdade é assim, feia, sem rima

E quase engraçada quando dita por um mentiroso

Ainda que seja por aquele palhaço sem graça... Que embaraçoso!

Deixa pra lá, você sabe melhor do que eu que no fundo tanto faz

Me pergunto se isso é mesmo necessário

Talvez seja aquele fundo de vaidade que me inibe

Não há mais religião, nem ídolos, nem desculpas

Sempre quis consertar, mas consertar é só deixar do melhor jeito para mim

Só quis mudar para provar a mim mesmo que podia

Sempre tentei ser profundo, mas tudo que consegui foi ser banal

Das raízes de minha superficialidade!

Tão sarcásticos

O mundo e eu

Tão irônicos

Eu e o mundo

Se ele me ignora, finjo ignorá-lo

Conhecer um pouco de tudo significa não conhecer nada de verdade

Sabe de uma coisa, ainda me surpreendo

O mar, o vento e a tempestade

Queria que você pudesse assistir a esta fúria comigo

Tenho que te falar do sal, não é mesmo?

Daquele que espalhei pelos jardins ao redor de minha casa

Para provar que eu era árido e forte, o mais forte

Tenho que te confessar a arrogância, não é mesmo?

É tão difícil... não sei por que você me faz dizer isso

No final o que sobra disso tudo é o tédio

O tédio e eu

Onde foram parar meus conflitos

A arte acabou e nem posso explodir

Pensei que meu coração explodiria quando ela me deixasse

Varrendo tudo que é comum e vulgar

Um novo mundo em que o diferente seria normal

E, quando fosse normal, alguém estaria lá para odiá-lo em meu lugar

Sei que você acha isso bobo, mas eu acho que é o que há de mais bonito

A única coisa que ainda me faz rir é atirar-se de cabeça contra os gigantes

Lembra aquilo que te dizia?

“Sou a pedra de Davi esmagando a crânio de Golias”

Bobagem...

Mentira...

O pior de tudo é encarar essa sua compreensão, esse seu perdão

Onde está meu fogo?

Se eu pudesse queimar tudo outra vez, não pouparia nada, nem ninguém

Não há segundas chances

Estou aqui, no único pedaço de chão que existe no meio do nada

Foda-se se for pra sempre

Diante de mim, tudo é escuridão; para trás, tudo é vazio

Quer saber de uma coisa, não me arrependo de nada

Mentira.

Antes de ir embora, me diga o que eu sou

A lança arremessada? A pedra atirada?

Ou a mesa posta? O rebanho no pasto?

Talvez a ligação desesperada no meio da noite

Deixa pra lá, na verdade nem importa

Só espero que um dia possa te perdoar por ter me perdoado

Você não podia ir embora agora

Me deixar comigo mesmo é desleal

Não é justo!

Não é justo!

Não é justo...

Por que você não ri e me diz aquilo que te disse?

“Nunca foi”

Seria perfeito, a última pedra atirada


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