Então, como te contar como tudo começou, se nem eu mesmo sei
Como te falar do meu velho porão, onde sempre escondi meus cacos e trapos
No fundo você sempre soube, você sempre conheceu tudo
Sabe que sou esta pequena mentira pretensiosa... arrogante
Não, não há nem mesmo tristeza... e isso é o que mais dói
Porque, de certa forma, você acaba viciado nela (seu único refúgio)
A verdade é assim, feia, sem rima
E quase engraçada quando dita por um mentiroso
Ainda que seja por aquele palhaço sem graça... Que embaraçoso!
Deixa pra lá, você sabe melhor do que eu que no fundo tanto faz
Me pergunto se isso é mesmo necessário
Talvez seja aquele fundo de vaidade que me inibe
Não há mais religião, nem ídolos, nem desculpas
Sempre quis consertar, mas consertar é só deixar do melhor jeito para mim
Só quis mudar para provar a mim mesmo que podia
Sempre tentei ser profundo, mas tudo que consegui foi ser banal
Das raízes de minha superficialidade!
Tão sarcásticos
O mundo e eu
Tão irônicos
Eu e o mundo
Se ele me ignora, finjo ignorá-lo
Conhecer um pouco de tudo significa não conhecer nada de verdade
Sabe de uma coisa, ainda me surpreendo
O mar, o vento e a tempestade
Queria que você pudesse assistir a esta fúria comigo
Tenho que te falar do sal, não é mesmo?
Daquele que espalhei pelos jardins ao redor de minha casa
Para provar que eu era árido e forte, o mais forte
Tenho que te confessar a arrogância, não é mesmo?
É tão difícil... não sei por que você me faz dizer isso
No final o que sobra disso tudo é o tédio
O tédio e eu
Onde foram parar meus conflitos
A arte acabou e nem posso explodir
Pensei que meu coração explodiria quando ela me deixasse
Varrendo tudo que é comum e vulgar
Um novo mundo em que o diferente seria normal
E, quando fosse normal, alguém estaria lá para odiá-lo em meu lugar
Sei que você acha isso bobo, mas eu acho que é o que há de mais bonito
A única coisa que ainda me faz rir é atirar-se de cabeça contra os gigantes
Lembra aquilo que te dizia?
“Sou a pedra de Davi esmagando a crânio de Golias”
Bobagem...
Mentira...
O pior de tudo é encarar essa sua compreensão, esse seu perdão
Onde está meu fogo?
Se eu pudesse queimar tudo outra vez, não pouparia nada, nem ninguém
Não há segundas chances
Estou aqui, no único pedaço de chão que existe no meio do nada
Foda-se se for pra sempre
Diante de mim, tudo é escuridão; para trás, tudo é vazio
Quer saber de uma coisa, não me arrependo de nada
Mentira.
Antes de ir embora, me diga o que eu sou
A lança arremessada? A pedra atirada?
Ou a mesa posta? O rebanho no pasto?
Talvez a ligação desesperada no meio da noite
Deixa pra lá, na verdade nem importa
Só espero que um dia possa te perdoar por ter me perdoado
Você não podia ir embora agora
Me deixar comigo mesmo é desleal
Não é justo!
Não é justo!
Não é justo...
Por que você não ri e me diz aquilo que te disse?
“Nunca foi”
Seria perfeito, a última pedra atirada
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